Burnout parental: como empresas podem oferecer suporte

Segundo pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a experiência das mães de crianças, que ingressaram no ensino fundamental durante a pandemia do Covid-19, foi marcada por uma sobrecarga intensa. Com o fechamento das escolas e a adoção do ensino remoto, as mães acumularam múltiplos papéis, o que desencadeou sentimentos de angústia, impotência e exaustão. Esse fenômeno, conhecido como burnout parental, extrapola os muros domésticos e infiltra-se nos ambientes corporativos.

Empresas que ignoram essa realidade perdem talentos e comprometem resultados organizacionais através de custos bilionários em queda de produtividade, absenteísmo e rotatividade. A seguir, entenda o cenário e o que pode ser feito.

O que é burnout parental?

O burnout parental caracteriza-se pelo esgotamento físico e emocional crônico decorrente das exigências contínuas da criação dos filhos. Diferente do cansaço ocasional que toda família experimenta, trata-se de uma condição persistente que afeta o funcionamento diário.

Identificado por pesquisadores belgas em 2017, o burnout parental apresenta quatro dimensões principais: exaustão extrema relacionada ao papel parental, distanciamento emocional dos filhos, perda do prazer na parentalidade e contraste marcado entre quem o adulto era antes e quem se tornou após a sobrecarga.

Particularidades do contexto brasileiro

No Brasil, fatores culturais agravam o problema. A romantização da maternidade como missão suprema feminina e a ausência histórica de homens nos cuidados infantis criam pressões desproporcionais.

Colaboradoras enfrentam julgamentos quando priorizam carreiras, enquanto colaboradores recebem elogios por participações mínimas na criação dos filhos.

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Sintomas do burnout parental no ambiente profissional

Identificar os sintomas é essencial para que o RH e as lideranças adotem medidas preventivas e ofereçam suporte adequado aos colaboradores. São eles:

Sinais físicos e cognitivos

A exaustão física revela-se através de olheiras profundas, doenças recorrentes e dificuldade de concentração durante reuniões de trabalho. Muitos relatam “névoa mental” constante, esquecendo compromissos importantes ou cometendo erros incomuns.

Mudanças comportamentais

O distanciamento emocional atravessa as esferas pessoal e profissional. Pais e mães esgotados tornam-se apáticos, respondem mecanicamente às demandas e perdem entusiasmo por projetos que anteriormente os motivavam.

Consequentemente, a irritabilidade desproporcional surge como resposta a solicitações simples de colegas ou gestores.

Queda de performance

Profissionais anteriormente pontuais começam a apresentar atrasos frequentes, justificados por emergências familiares. A qualidade das entregas deteriora-se progressivamente, enquanto prazos são descumpridos com regularidade preocupante.

Isolamento social

Colaboradores com burnout parental evitam conversas informais, recusam participação em eventos corporativos e demonstram desconforto quando colegas perguntam sobre filhos. Esse afastamento reflete uma vergonha profunda por não conseguirem “dar conta de tudo”.

Qual é o impacto do burnout parental no ambiente corporativo?

Quando as empresas não oferecem suporte adequado, os efeitos se estendem à cultura organizacional e comprometem o engajamento de toda a equipe. Entenda os principais impactos desse fenômeno nas organizações:

Absenteísmo elevado

Pais esgotados tendem a faltar mais que colegas sem filhos ou com suporte familiar estruturado. Essas ausências nem sempre aparecem explicitamente como relacionadas à parentalidade.

Muitos colaboradores alegam doenças próprias quando, na realidade, precisam cuidar de crianças doentes ou resolver emergências escolares.

Colaboradora celebrando o dia das mães

Rotatividade de talentos

Profissionais qualificados abandonam posições promissoras ao perceberem incompatibilidade entre cultura corporativa e vida familiar. A substituição desses talentos custa entre 50% e 200% do salário anual, segundo a Society for Human Resource Management.

Deterioração do clima organizacional

Clima organizacional deteriora-se quando colaboradores percebem que demandas familiares são tratadas como inconvenientes profissionais. Ressentimento surge entre funcionários com e sem filhos, especialmente quando empresas falham em comunicar políticas de equidade adequadamente.

O que o RH pode fazer?

Mais do que reconhecer o problema, é preciso agir rapidamente para reduzir a sobrecarga e promover equilíbrio entre vida profissional e familiar. Veja ações práticas que o RH pode implementar:

1. Flexibilidade de horários e trabalho remoto

Permitir que pais e mães ajustem rotinas conforme necessidades familiares reduz drasticamente o estresse. Horários de entrada e saída flexíveis acomodam rotinas escolares, enquanto trabalho híbrido elimina tempo perdido em deslocamentos.

Bancos de horas possibilitam compensações inteligentes: colaboradores atendem emergências familiares durante a semana e recuperam tempo posteriormente. Essa autonomia transmite confiança organizacional na capacidade de gestão individual.

2. Rede de apoio no ambiente de trabalho

Grupos de afinidade reunindo pais e mães criam comunidades de suporte onde experiências são compartilhadas sem julgamentos. Essas redes de apoio no trabalho disseminam informações práticas sobre serviços locais, escolas e estratégias de conciliação.

Mentoria reversa conecta colaboradores experientes na parentalidade com novos pais, oferecendo orientação sobre navegação de políticas corporativas e negociação de necessidades com gestores.

3. Suporte psicológico e bem-estar

Oferecer benefícios com sessões de terapia incentivam os funcionários os encorajam a buscar ajuda e a identificarem o problema. Workshops sobre gestão de culpa, estabelecimento de limites e autocuidado fornecem ferramentas práticas.

Aplicativos de meditação como yoga e programas de gestão de estresse, beneficiam especialmente pais sobrecarregados que raramente priorizam o próprio bem-estar.

4. Promover equidade no cuidado

Licenças parentais estendidas para ambos os genitores normalizam corresponsabilidade. Quando empresas oferecem períodos equivalentes independentemente de gênero, comunicam expectativa de divisão igualitária dos cuidados.

Campanhas internas celebrando pais engajados desconstroem estereótipos e incentivam os homens a participarem ativamente da criação dos filhos, o que diminui a incidência do burnout parental.

Empresas que tratam a parentalidade como ativo estratégico, e não barreira, colhem equipes mais motivadas, produtivas e comprometidas com o propósito organizacional.

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Amanda Miquelino
Amanda Miquelino
Jornalista, apaixonada pelo SEO e pelo Marketing Digital. Estou desvendando o mundo do RH para encontrar os melhores benefícios corporativos que promovam o bem-estar aos colaboradores.

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